quarta-feira, 20 de julho de 2011



Cromatismo

"Pero bastaba mirar los muebles y las paredes, como revestidos de aislamiento, para convencerse de que allí no había nadie. Más aún: para convencerse de que nunca hubo nadie."
Bioy Casares


Era uma sala seis por quatro com um quarto de paredes vermelhas
e cortinas quase brancas.
Era um azul com verde do lado de fora, dando sensação de que tudo estava
- ou que devesse ficar -, bem.
Um ponto vermelho e prata, que era a dúvida,
projetava-se para além das janelas rasgadas nas cortinas.
Era a mais pura verdade.
Era como amar na adolescência. Mas não era eu quem adolescia.
Não se pode conceber o bem puro azul e verde sem considerar o vermelho e prata que lhe quebra.
Éramos eu, a sala e o lá fora. Antes achava que havia outros mais ali.
Outros como eu. Doce ilusão,
éramos todos sós: eu, eles, as paredes, as cores. Éramos vastos, mas nada se movia. Então acreditávamos, obedecíamos. Quase completamente primários, a não ser pela dúvida.
Era o momento da espera,
gestação do que queria que fosse a ideia, mas que não passava, ou passa, de experiência.
Sentimento que atravessa, passa mesmo pelo corpo e a gente a esperar
uma classe lógica que aprisionasse o instante,
significando-o por um nome falso, não compartilhado, não comungado.
O instante não costuma revelar-se em significado, mas em ação, reação, corrente física eriçando os pelos do corpo, como que dizendo-lhe que somos íntegros de toda forma.
Era como amar na adolescência, mas eu,
realmente, não adolescia.
Não me confortava a ideia de que todo instante, tão meu,
estaria integrado, em algum momento,
àquelas formas de janelas de mentira, rasgadas nas cortinas quase brancas, emolduradas por um azul com verde quase puro, não fosse pelo ponto vermelho e prata, que era a dúvida.


2 comentários:

  1. Esse é pra ler e reler... e discutir! Magnum!
    adoro isso: Era a mais pura verdade!

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  2. Mas não creia, caríssima, ela não existe, a mais pura verdade. é, na verdade, mais uma mentira.

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