quarta-feira, 6 de julho de 2011


Contudo

"Pois que dedico esta coisa aí ao antigo Schumann e sua doce Clara que são hoje ossos, ai de nós"

C. Lispector

É uma maçã.

A verdade: ira divina manifestada nos homens.

Devo contorcer-me num riso louco, afogado.

Devo começar agora e só parar quando ouvir:

- Isto é uma maçã.

Roída.


Será que a maçã...?

- Rubra.

Não como as bocetas porque elas se mantêm bem vermelhas, latejandúmidas...

- Na verdade escurecem até findar num buraco negro e sujo. As maçãs clareiam:

Ebúrneas.

Será que a maçã é...

Sim?

Carta em branco. Nenhum destinatário. O que não é porque se perde na linhimagemágica:

Tempo.

Você aí, de outro lado que não o meu, dissociando-se de bom grado.

Gradativamente.

Eu me perdi pra diante. Segui por trajetos escusos, ultrapassei meus limites.

- É mesmo tua razão que te faz Homem? Teu pau, o que é?

Não posso afirmar muito, sei que ultrapasso a linha do meu corpo e isso me lança bem pra longe, digo.

Dito.

É assim que vivo: possuo-te em outros corpos que não o meu,

[ Não posso possuir-te, assim de chofre, sem libertar-me da ira divina]

, deleito-me sobre minha própria condição de existir paralelamente.

Essa transitoriedade me eleva, me desencerra.

Grilhões não me prendem mais.

Sou todo alma agora.

De novo devo contorcer-me epileticamente num riso longo.

É duro. Sólido este corpo tátil que atravesso.

Quebro-me em estilhaços espelhados que fazem de ti um universo pequeno diante da imagem tua, em mim refletida.

- Dá-me a matéria magiquimagética que te peço:

Tempo.

Não quero Deus, não quero o físico que te encerra. Se fosse opção, escolheria o branconadaviscoso de onde sei que vim. O medo me prende e não posso ser lançado nesse jato de porra sobre o qual a coisa toda cresce pra o nãoseiqueonde e que me faria mais parte de ti nela mesma.

Sem essa consciência,

contudo.

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