Contudo
"Pois que dedico esta coisa aí ao antigo Schumann e sua doce Clara que são hoje ossos, ai de nós"
C. Lispector
É uma maçã.
A verdade: ira divina manifestada nos homens.
Devo contorcer-me num riso louco, afogado.
Devo começar agora e só parar quando ouvir:
- Isto é uma maçã.
Roída.
Será que a maçã...?
- Rubra.
Não como as bocetas porque elas se mantêm bem vermelhas, latejandúmidas...
- Na verdade escurecem até findar num buraco negro e sujo. As maçãs clareiam:
Ebúrneas.
Será que a maçã é...
Sim?
Carta em branco. Nenhum destinatário. O que não é porque se perde na linhimagemágica:
Tempo.
Você aí, de outro lado que não o meu, dissociando-se de bom grado.
Gradativamente.
Eu me perdi pra diante. Segui por trajetos escusos, ultrapassei meus limites.
- É mesmo tua razão que te faz Homem? Teu pau, o que é?
Não posso afirmar muito, sei que ultrapasso a linha do meu corpo e isso me lança bem pra longe, digo.
Dito.
É assim que vivo: possuo-te em outros corpos que não o meu,
[ Não posso possuir-te, assim de chofre, sem libertar-me da ira divina]
, deleito-me sobre minha própria condição de existir paralelamente.
Essa transitoriedade me eleva, me desencerra.
Grilhões não me prendem mais.
Sou todo alma agora.
De novo devo contorcer-me epileticamente num riso longo.
É duro. Sólido este corpo tátil que atravesso.
Quebro-me em estilhaços espelhados que fazem de ti um universo pequeno diante da imagem tua, em mim refletida.
- Dá-me a matéria magiquimagética que te peço:
Tempo.
Não quero Deus, não quero o físico que te encerra. Se fosse opção, escolheria o branconadaviscoso de onde sei que vim. O medo me prende e não posso ser lançado nesse jato de porra sobre o qual a coisa toda cresce pra o nãoseiqueonde e que me faria mais parte de ti nela mesma.
Sem essa consciência,
contudo.
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