sexta-feira, 31 de agosto de 2012
: das mudanças
Sob minha própria jangada, não de pedra, mas de carne e ossos e vísceras, sigo. Errante. Nada novo, só o velho estado mutante.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
sexta-feira, 15 de junho de 2012
Errância
Por que é que há momentos em que a pele me escapa e é como se eu e o mundo fôssemos uma só coisa?! Dói-me a ideia da limitação da minha existência, a despeito do gozo que vem de sentir a vida pulsando em forças que me surpreendem e me significam num desentendimento pleno. Errante.
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Repetição
Então invento um mundo de coisas reais-físicas pra que eu
possa negar a metafísica, o real-místico
: todo seu entorno
imagético criado.
Então fantasio a segurança do meu mundo:
Essa é minha mística.
Da minha janela observo a vida com certa apatia por saber
que não sou observado.
Ocorre que só me repito em outras janelas.
Infinitamente:
Um
espelho frente a outro
Eu
Me
Repito
atrás de um quadrado que replica o vazio de uma cidade
fantasma
[Estou me salvando
nos outros. Todo tempo me salvando nos outros. Tentando me salvá-los].
Num deserto que não é [nada] de almas, nem de mentes, só de
corpos.
Corpos velhos, cansados, cadáveres ambulando sob a força de
um impulso já morto,
Quem estou eu em meio a essa orgia necrófaga?
Que faço se não sou capaz de oferecer-me uma resposta conclusiva?
[mesmo tendo plena consciência de que não me a quero em mim;
mesmo estando certo de que não há desfecho ao final da interrogação que, como
eu, se engole e se reinventa em novas inquietudes ad infinitum]
Tenho me engolido repetidamente pra manter a sanidade:
Engolindo meu juízo
frente a um espelho que
Serrepeterrepete-me
¿?
terça-feira, 27 de março de 2012
Gota
Bastava observar para perceber
que estava morto. Sentiu ainda um calafrio e passou a mão nas costas. Descia um
líquido quente na fonte, não muito denso, que esfriava ao percorrer o sulco que
o dividia em dois hemisférios, escorrendo acima do monte elevado dos quadris.
Não muito denso.
Apenas o suficiente para saber
que aquilo era sua vida que se esvaía por um buraco maior que um poro.
Não muito densa, mas sua. Foi por
aí que se deu conta do erro que havia cometido ao acreditar em sua infância
curta:
seus cordões
umbilicais eram tantos, contudo tão frágeis.
Teve medo e morreu outra vez
pensando quantas mais seriam necessárias até a anulação do que o olhar materno
do mundo lhe apresentara como identidade. Também isso era desculpa, porque
essas mortes, esse vagar e atravessar superfícies lhe provavam o contrário do
ser: uma superfícidentidade falsa .
- E o contrário da
própria identidade é o quê mesmo, hein? –
O fato de todos os outros homens
estarem também mortos e obsoletos não lhe aliviava a angústia de existir
daquela maneira. Era jovem e morria sem
que ninguém verdadeiramente notasse. Era mais fácil, então, aceitar:
não lutar, não se indispor.
Aquele momento em que, de tão
vivo, sente-se plenamente a morte fluir pelo corpo, sair e voltar pelos poros, isso
é plenitude de vida?
Sinto-me calçando sapatos de
bebê, com um corpo visivelmente desajustado, sustentado pelos frágeis pés de
uma criança. É um equívoco caminhar com esses pés, expor-me ao risco de romper
a débil película que lhe chamam pele - mesmo que mal limite o contato com o
tecido telúrico do mundo, com o chão tão carregado de vida pulsante.
É, sim, um equívoco forçar meu
frágil alicerce com um corpo intransigente, relutante em aceitar sua condição,
suportando um peso que não é seu, que não poderia nem mesmo ser...
Há um verde vivo e fresco entre
mim e a terra úmida da qual sou constituído.
Há uma película bem fina de musgo
vivo sobre o chão que piso agora, que piso pra sempre e que me sustenta,
embora haja pés e Eu
entre mim e a matéria sólida do mundo.
...
.Bato forte no teclado, como se –
insubordinado -, me desobedecesse caso o tratasse muito brandamente.
Há três copos na mesa – que nem
posso chamar de “Minha” -, bem ao lado do computador : cantam junto à vibração
causada pelas pancadas.
Música seca.
- Seca como eu agora seco -.
Dou socos na mesa e ainda assim
cantarolam os copos insistentemente, tratando de me convencer da necessidade de
ser embalado por essa sinfonia ambígua: violenta e morta.
Preciso transfundir minha alma
pra que eu me integre à vontade do mundo.
Desentendê-lo tem sido minha
missão, lição de vida. Preciso barganhar minha coisa alma, trocá-la por algo
menos intenso, tenso, cheio de coisas, de emoções. Minha forma está inflada de
sentimentos que não possuo, por isso desentendo-os.
Quero estar numa alma ingênua,
crédula, bem pegada à vida, ao comum e ao senso.
Quero, por isso, uma alma menos
crítica - de vidro -,
que cante às pancadas que dá o
giro do mundo.
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Um fardo
"...Por que é que ver é uma tal desorganização?
E uma desilusão. Mas desilusão de quê? se, sem ao menos sentir, eu mal devia estar tolerando a minha organização apenas construída? Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. No entanto se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido. O que eu era antes não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança. De meu próprio mal eu havia criado um bem futuro. O medo agora é que meu novo modo não faça sentido? Mas porque não me deixo guiar pelo que for acontecendo? Terei de correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade."
E uma desilusão. Mas desilusão de quê? se, sem ao menos sentir, eu mal devia estar tolerando a minha organização apenas construída? Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. No entanto se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido. O que eu era antes não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança. De meu próprio mal eu havia criado um bem futuro. O medo agora é que meu novo modo não faça sentido? Mas porque não me deixo guiar pelo que for acontecendo? Terei de correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade."
G.H.
Um fardo
Quero
romper limites.
Não é muito
se considerar a barreira entre meu corpo e o que o extravasa pra além dessa
minha atmosfera.
É uma
membrana apenas, se considerar o quanto de mim cabe na minha coisa-corpo.
É uma
barreira quase intransponível se considerar o quanto de corpo cabe nessa minha
coisa-Mundo
Vida.
Tempo. Criação.
Preciso
romper barricadas que se me imponho cada vez que me deparo com o ato de viver
do meu jeito.
Como se
dependesse de mim viver do meu jeito.
Como se
escrever, carregando o sujeito a responsabilidade de comunicar - fazer-se
(des)entender -, me livrasse de uma obsessão que já é demasiado grande e madura
pra que eu pudesse disfarçá-la. Não tento, não me atrevo. Me a vivo, me avivo.
O que
detenho em mim é corpo e o pra fora também é corpo e também é eu, então eu os
possuo integralmente sem entender as distinções.
Eu sou a
vida e a morte que possibilita a vida.
Eu sou o
Tempo que me inventa, me envelhece e envilece.
Minvelhessinvilesse.
À parte a
angústia, morte de quem vive, eu sangro.
Sangrar me
faz vivo, mais pertinente, me acalma.
Me afeta.
- Então me
afeta efetivamente, porque já não aguento essa percepção ruminada das coisas.
Me afeta direto, direito porque canso de te viver como se fosse um obstáculo
entre mim e mim. Me deixa conhecer a verdade e por ela estar liberto!
Não creio
que,
pois:
Sofro de
desencantamento precoce.
[Quase] Não
me fio em discurso.
[Quase] Acredito
que.
Quando conformemente
me afasto
- ideia, ou
ação sem arestas -,
me enquadro.
Queria
encontrar outras parcelas de mim que também se iludissem crendo fugir à ordem
da logorreica modernidade mas que dela mais se aproximam [só] ao negá-la.
Criam novas,
criadoras
autofagócitas-antropofagazinhas a partir de seu pouco alcance:
Similitude.
Contudo se,
Em vez de
minhas partes, deparar-me com a morte, não sei o que dizer-lhe. Acho mesmo que
nem seria o necessário se houvesse:
Queria ficar
mais um pouco.
Por que veio
tão tarde?
Será assim,
então, o meu inverno?
Não sei.
Mas também sei
que é, dessa forma, o mais natural, o mais de acordo a: não saber.
- E então? [Um grito?]
nãosabendo
vou.
A cócega de
uma interrogação que volteia o cérebro
eu a
enxergo.
Não seria
capaz de descrever a matéria que a constitui,
contudo.
Levanto-me
desesperado por não oferecer-me de bom grado e com aceitação as respostas que
invento.
Onde é a coisa
da matéria?
É um self o
que preenche a interrogação, ou ele a precede?
Prescinde.
Tranco-me
atrás de uma porta que leva a lugar nenhum e choro.
Copiosamente.
Me tenho
imposto caminhos [?] - sem perceber o
quanto de mim se perde e mesmo assim me dá forma -, que findam num muro de
tijolos à vista sem passagem e fico obrigado a escalá-lo:
Volto a
estar o que não fui, quero ser o que não estive.
Eu teria
gostado de sentir algo transcendendo em mim.
Na alma,
como dizem.
A falta de
fé, entretanto, é um veneno que me eleva e me sabota sem prévio aviso.
É por vaidade
o meu existir, que se é meu é porque é também pra além de mim.
Porque, se
me sendo é em razão de você ser-se, é vulgaridade tudo o que nos cerca.
O rótulo é lugar
vão:
Vago.
Lugar que
não se preenche porque Deus é ladino, tirador de sarro, vai, vem , traz e leva:
coisadeus é vaga.
Tanto faz o
que eu seja desde que caiba nalgum posto preenchido
: um rótulo.
Sei que me
aceitarão. Mesmo que uns poucos só.
Problemático
é quando um selo não me cabe, não me o preencho de mim e, então, eu desexisto
por ocupar um espaçoparadoxolivre.
- des - Espero
um novo nome, não superficial, supra oficialmente aceito,
normatizado
pra que me sinta reconfortado,
reestruturado
e confiante na infalibilidade do significado de mim no outro:
Um fardo.
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