segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Status

Tentando reencontrar o prazer besta e ingênuo diante do novo, porque pequeno. Com medo de não me surpreender com muito mais daqui por diante. O futuro está atrás em mim.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Tudo o que, em mim, é literário está preenchido por ausências negligentes.

E a palavra, que me tem digerido de fora pra dentro, não externa o que já é por demais extrínseco.

eStOU extrinsecura,

seco?

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Sobre o futuro, ou estar-se à frente:


Essa noite acordei com esperança de que amanhã seja um melhor dia.

Não por reclamá-lo, mas por vivê-lo.

Se hoje penso que posso sabê-lo, assim de antemão, é porque a ele não me entrego: engano. Não me o vivo. Como não me o vivo amanhã.

Sopro e vejo o mundo revelar-se em eminência.

Só prevejo-o.

Certamente não me ocuparei do que não posso sê-lo. Cansado de uma altura - que é também a minha, mas que não me a vivo.

Que é que há de mágico no mundo? Sua categorização é vanidade.

Vaidade debaixo do sol

que rege, acalenta, mas também oprime.

É o sol que nos torna vãos, vaidosos. Não dele, mas por ele.

Aquele homem à minha frente - tão senhor de si, catedrático, chancelado com a mais alta galhardia -, não conhece o sol e, assim mesmo, sem dar-se conta, subestima o Astro.

Uma gota quente caiu-me bem no estômago.

Era - também ela -, um pouco de sol. Pude senti-la aquecendo as paredespregas de um espaço que eu mesmo não seria capaz de reconhecer se me o pusessem à frente.

O epitélio superficial, cilíndrico simples, mucosecretor sem células caliciformes, recobre criptas rasas, de forma estrelada: fovéolas gástricas.

Temo que o futuro seja assim: um estômago em minha cara sem que eu seja capaz de identificá-lo como meu - apesar das possibilidades de reconhecimento do calor que um dia me preencheu as vísceras de alto a baixo.

Não sou vísceras apenas. Sou todo corpo e movimento.

Desejei prender-me, assim: conter talvez a tepidez de uma gota visceral que - por ansiedade -, quis alcançar com as mãos e desisti diante da impossibilidade de ter cinco dedos internos que me a fizessem senti-la, quente, nas minhas falanges sem digitais.

Forcei-me a tocar com as tripas a parcela de calor que me cabia naquele instante. Desisto quando, na rua, à minha frente, um homem caminha com seu guarda chuva preto, defendendo-se de uma chuva fina que não deveria, jamais, ser detida, impermeabilizada. Entendo - a partir disso -, que não devo me defender. Tocar a gota é defender-me do calor que protege o que em mim não se me pode entender: o que se me escapa

O dia era cinza, mas bastante claro. As gotas caíam frias e finas sobre o guarda chuva: chiavam como uma tevê dessintonizada. Sob a haste de ponta abaulada e preta um homem concebia uma prece de agradecimento ao instante, à Possibilidade

: ser triste e consciente.

Conivente com o que é belo e com o que dele escapa – como se não aceitasse o amor irrefutável que se lhe é dedicado por compaixão. O feio e o belo não se fogem. Contêm-se na sorte de uma vida apenas: a do homem que caminha à minha frente

: guarda-chuva preto, tecido sinológico; reconhecendo faces sem juízos, despindo-as do belo e do feio. O homem estaca à minha frente ao passo que eu também, sem notar, perco as forças e deixo de seguir.

- Olho ao redor - ,

tentava perceber outros passos além dos meus e dos do raro senhor à minha frente. Não há ninguém no lugar àquela hora, somos nós apenas. Quando me dou conta disso percebo que algum tempo já então passou

– isso é o futuro?

não tenho mais a companhia do homem que duvidava do sol, a não ser pelas pernas que sustentam meu cansado corpo, do guarda-chuva preto de tecido sinológico em minhas mãos e do chiado insistente das frias gotas da chuva que persistiam na tarefa de me lembrar que o dia era cinza, mas bastante claro e que , portanto, não se me acontecia dessintonizado.

domingo, 24 de julho de 2011

Per(I)manência
Há um fio grosso de líquido espesso
que escorre por entre as linhas,
aquecendo-as pra que vivam além do que se conta.
Encontra-se vermelho.
É sangue.
É falso,
não tem partido.
Não é bom, nem ruim, nem meio termo.
Está acontecendo agora enquanto você decodifica letras e sílabas e vozes.
Enquanto busca significados não genuínos que te escapam definitivamente, a menos que se queira o contrário.
Não é absolutamente por você.
Me asseguro no que em vento sopra.
Que eu me caiba é só o que espero.
Me asseguro no que invento só pra que eu me caiba.
Espero.
Sou uma flor.
A que toca o nariz e coça, incomoda.
Sou contorno e pólen
sou uma puta.
Tudo é porque quero, porque posso, não por você.
Sou uma puta antiga,
sempre fui,
por puro prazer,
aprazível,
mentirosamente agradável
sou a viúva negra.
Sou uma flor de cemitério,
mas não permito que descubram antes do gozo.
Sou tão antiga e você me conhece desde sempre, quase.
Se me explico é por pura resignação
Sei que se fingisse hermetismo forçaria a desescritura do meu rastro incontido no orgasmo que te entrego de presente,
te fazendo crer no futuro
te lembrando mirra, tão sublime.
Não sou só ação, sou também pausa e o Silêncio.
Por isso me faço necessária: eu te desligo e te retomo no momento exato:
eu te retorno e
por isso sou antiga,
uma puta, já disse.
This is an attempting,
that’s all
Não tenho certeza do que pretendo confessando a você erros nos quais eu nem acredito
showing up my bloody body
instead of hiding it,
that’s the proof you’ve got to seek.
‘Cause I’m the black widow
I’m that fallen cemetery vase
filled with fake daisies:
as meaningless
as it can be.
Uma tentativa:
inmanencia,
um fio de sangue falso
que escurre,
calienta un verbo tibio
- sin sentido
como un viejo recuerdo -,
y lo apacigua:
secreto de amantes,
huellas de una puta antigua.

sábado, 23 de julho de 2011

quarta-feira, 20 de julho de 2011



Cromatismo

"Pero bastaba mirar los muebles y las paredes, como revestidos de aislamiento, para convencerse de que allí no había nadie. Más aún: para convencerse de que nunca hubo nadie."
Bioy Casares


Era uma sala seis por quatro com um quarto de paredes vermelhas
e cortinas quase brancas.
Era um azul com verde do lado de fora, dando sensação de que tudo estava
- ou que devesse ficar -, bem.
Um ponto vermelho e prata, que era a dúvida,
projetava-se para além das janelas rasgadas nas cortinas.
Era a mais pura verdade.
Era como amar na adolescência. Mas não era eu quem adolescia.
Não se pode conceber o bem puro azul e verde sem considerar o vermelho e prata que lhe quebra.
Éramos eu, a sala e o lá fora. Antes achava que havia outros mais ali.
Outros como eu. Doce ilusão,
éramos todos sós: eu, eles, as paredes, as cores. Éramos vastos, mas nada se movia. Então acreditávamos, obedecíamos. Quase completamente primários, a não ser pela dúvida.
Era o momento da espera,
gestação do que queria que fosse a ideia, mas que não passava, ou passa, de experiência.
Sentimento que atravessa, passa mesmo pelo corpo e a gente a esperar
uma classe lógica que aprisionasse o instante,
significando-o por um nome falso, não compartilhado, não comungado.
O instante não costuma revelar-se em significado, mas em ação, reação, corrente física eriçando os pelos do corpo, como que dizendo-lhe que somos íntegros de toda forma.
Era como amar na adolescência, mas eu,
realmente, não adolescia.
Não me confortava a ideia de que todo instante, tão meu,
estaria integrado, em algum momento,
àquelas formas de janelas de mentira, rasgadas nas cortinas quase brancas, emolduradas por um azul com verde quase puro, não fosse pelo ponto vermelho e prata, que era a dúvida.


sexta-feira, 15 de julho de 2011

Decoração

Quero um coro novo sem decoro.

Oro porque possa, sem corar,

Atingir o novo da oração de cor,

de cor. Decoro um espaço vivo de coração

a ver se me inspira uma lágrima

e obedeço.

desço ao mais íntimo de mim mesmo

devendo saber que veia atingir

para que, enfim,

possa tingir, de rojo muy colorado,

o tecido dormente que recobre a peça

que me tem a ela acorrentado.

Ainda não me decorei.

quarta-feira, 6 de julho de 2011


Contudo

"Pois que dedico esta coisa aí ao antigo Schumann e sua doce Clara que são hoje ossos, ai de nós"

C. Lispector

É uma maçã.

A verdade: ira divina manifestada nos homens.

Devo contorcer-me num riso louco, afogado.

Devo começar agora e só parar quando ouvir:

- Isto é uma maçã.

Roída.


Será que a maçã...?

- Rubra.

Não como as bocetas porque elas se mantêm bem vermelhas, latejandúmidas...

- Na verdade escurecem até findar num buraco negro e sujo. As maçãs clareiam:

Ebúrneas.

Será que a maçã é...

Sim?

Carta em branco. Nenhum destinatário. O que não é porque se perde na linhimagemágica:

Tempo.

Você aí, de outro lado que não o meu, dissociando-se de bom grado.

Gradativamente.

Eu me perdi pra diante. Segui por trajetos escusos, ultrapassei meus limites.

- É mesmo tua razão que te faz Homem? Teu pau, o que é?

Não posso afirmar muito, sei que ultrapasso a linha do meu corpo e isso me lança bem pra longe, digo.

Dito.

É assim que vivo: possuo-te em outros corpos que não o meu,

[ Não posso possuir-te, assim de chofre, sem libertar-me da ira divina]

, deleito-me sobre minha própria condição de existir paralelamente.

Essa transitoriedade me eleva, me desencerra.

Grilhões não me prendem mais.

Sou todo alma agora.

De novo devo contorcer-me epileticamente num riso longo.

É duro. Sólido este corpo tátil que atravesso.

Quebro-me em estilhaços espelhados que fazem de ti um universo pequeno diante da imagem tua, em mim refletida.

- Dá-me a matéria magiquimagética que te peço:

Tempo.

Não quero Deus, não quero o físico que te encerra. Se fosse opção, escolheria o branconadaviscoso de onde sei que vim. O medo me prende e não posso ser lançado nesse jato de porra sobre o qual a coisa toda cresce pra o nãoseiqueonde e que me faria mais parte de ti nela mesma.

Sem essa consciência,

contudo.